07-03-2025
Sofia Barbosa, especialista em Engenharia Geológica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, explica ao Expresso alguns dos desafios da exploração das terras raras.
O Presidente dos Estados Unidos tem cobiçado as chamadas "terras raras" da Ucrânia como parte do acordo dos minerais para, no entender de Donald Trump, compensar a ajuda que a América tem prestado ao país em guerra.
Donald Trump tem cobiçado as terras raras da Ucrânia. Porquê ?
Sabemos que os Estados Unidos têm uma grande dependência em terras raras, elementos químicos que são muito relevantes para produzir uma série de bens essenciais do nosso dia a dia. Neste momento não há nenhum país que consiga ultrapassar as explorações e as reservas da China. Não só têm grandes depósitos que exploram e processam, como ainda conseguem ir buscar matéria-prima vinda de outros locais para, no seu território, produzirem concentrados de terras raras. Os Estados Unidos têm as suas fontes, que, com o tempo, vão diminuindo e algumas até podem esgotar-se. Aquilo que se pretende sempre é ir procurando mais alternativas.
A Ucrânia tem muitas terras raras ?
As terras raras não são a situação mais característica da Ucrânia. A Ucrânia tem um enorme potencial até por outros metais e recursos geológicos. O que sobressai logo é o titânio - tem estado entre os 10 primeiros produtores a nível mundial -, a grafite também é relevante, bem como o cobre e o urânio. A nível europeu, é o único país em que a quantidade de urânio se destaca, exploram-no nas próprias centrais nucleares. A Ucrânia também tem algum gás natural e crude que consome internamente, mas não chega sequer para a procura do país. Em relação às terras raras, não houve ainda estudos suficientemente desenvolvidos para se poder dizer: "Aqui temos x mil milhões de toneladas de terras raras que podem ser exploradas". Estamos ainda muito longe dessa realidade, no entanto, não quer dizer que o potencial não esteja lá.
Será difícil e moroso extrair estes recursos minerais ?
Na Ucrânia o que está feito é uma identificação das terras raras. Os depósitos existem e aparecem nos mapas. Entre identificar os recursos e perceber se é possível ou não explorá-los, geralmente leva no mínimo 10 a 15 anos. Agora é necessário apostar na parte da prospeção e da investigação, até porque estas terras raras não aparecem sozinhas, estão misturadas com outros elementos químicos, estão dentro de outras fases minerais. O processo de separação e concentração das terras raras pode ser tão complexo que o investimento que tem de ser feito pode dificultar o avanço para a exploração. Mesmo numa situação em que se estabeleça um acordo de paz na Ucrânia, de alguma forma se pense que é possível começar logo a explorar as terras raras. Não é assim tão rápido.
Jornalista: Mara Tribuna
Expresso Online, 6.03.2025
Temas: Setor Minas e Minérios